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Em registro importante de sua nova missão após a quebra de 2013, telescópio espacial Kepler detecta planeta semelhante à Terra em sistema estelar a apenas 150 anos-luz daqui, possível de ser estudado com nossos equipamentos atuais.
Observar planetas potencialmente semelhantes à Terra nas proximidades não é comum. O EPIC 201367075d, descoberto pelo telescópio espacial Kepler, está a 150 anos-luz daqui e poderá ser analisado por equipamentos no solo. (imagem: David A. Aguilar/ CfA)
Uma descoberta feita pelo telescópio espacial Kepler pode se tornar um novo marco no estudo dos exoplanetas. A nova missão do equipamento da agência espacial norte-americana, a Nasa, apresentou ao mundo três novos planetas de tamanho similar ao da Terra e possivelmente rochosos, um deles na zona habitável de sua estrela. A grande diferença desta para outras descobertas recentes, porém, é a proximidade desses astros com nosso sistema: os novos planetas estão a ‘apenas’ 150 anos-luz daqui, perto o suficiente para que possamos começar a estudar sua atmosfera com as tecnologias atuais.
O EPIC 201367065d é 1,5 vezes maior que a Terra e dá uma volta completa em torno de sua estrela em 44,6 dias terrestres
Os exoplanetas recém-anunciados orbitam em torno de uma estrela anã-vermelha, menor e menos brilhante que o nosso Sol. O EPIC 201367065d é 1,5 vezes maior que a Terra e dá uma volta completa em torno de sua estrela em 44,6 dias terrestres. Isso leva os astrônomos a supor que ele possa receber até 50% mais radiação de sua estrela que a Terra do Sol – o que talvez o transforme num árido deserto escaldante e não em um planetinha ameno como o nosso, capaz de abrigar água líquida e, talvez, vida em sua superfície. Os outros dois planetas, localizados no mesmo sistema, são 2,1 e 1,7 vezes maiores que a Terra, porém estão mais próximos da estrela EPIC 201367075a (em zona não habitável).
“As incertezas da medição ainda são consideráveis, mas é sim possível que o planeta EPIC 201367065d se revele mais parecido com Vênus do que com a Terra”, acredita o astrônomo Ian Crossfield, pesquisador da Universidade do Arizona (Estados Unidos) e líder do grupo responsável pelo achado. “Mas, apesar de próximo de sua estrela, muito menor e mais fria que o Sol, o astro está no limite interno de sua zona habitável e também é possível que receba a mesma quantidade de luz e calor que nós; precisamos de mais estudos.”
Mesmo que temperatura e radiação não inviabilizem a vida no novo planeta, isso não significa que encontraremos homenzinhos verdes – ou bactérias incolores – por lá. “Estar na zona habitável de uma estrela só mostra que o planeta está a uma distância ideal de seu sol para que tenha água em estado líquido, uma condição necessária para vida, mas esse é apenas o primeiro termo de uma complexa equação”, pondera Eder Molina, geofísico do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo e colunista da CHC On-line.
Figurinhas cada vez mais fáceis
A descoberta de novos mundos semelhantes em tamanho à Terra e dentro das zonas habitáveis de suas estrelas já deixou de ser uma grande novidade. O Kepler-186f, primeiro planeta desse tipo, foi anunciado no ano passado e ainda na semana passada a Nasa anunciou outros três semelhantes, também descobertos pelo Kepler, em meio a um grupo de oito novos registros do telescópio.
Crossfield: “Nós já conhecemos muitos planetas potencialmente habitáveis, mas o EPIC 201367075d é um dos menores e mais frios orbitando uma estrela tão próxima”
“Nós já conhecemos muitos planetas potencialmente habitáveis, mas o EPIC 201367075d é um dos menores e mais frios orbitando uma estrela tão próxima”, destaca Crossfield. “Isso é empolgante porque podemos estudar esse planeta e a sua atmosfera hoje, com as tecnologias atuais.”
Dada a proximidade dos astros, telescópios da Terra, o telescópio espacial Hubble e o futuro telescópio espacial James Webb podem ser utilizados para ajudar a caracterizar melhor a estrela e seus planetas: sua massa, temperatura, idade e composição química de sua atmosfera. “Identificar suas densidades vai nos dizer se eles são constituídos principalmente de rochas ou de elementos menos densos, como hidrogênio e hélio, assim como Urano e Netuno, e água, como acontece com as luas de Júpiter”, explica Crossfield. “Talvez o Hubble possa nos trazer informações sobre suas atmosferas e o James Webb, capaz de fazer observações mais precisas, certamente poderá nos trazer ainda mais detalhes.”
Kepler 2: a missão
A descoberta é consequência direta de recentes mudanças na missão do Kepler. Após apresentar defeitos em 2013, quando não conseguia mais apontar para uma região fixa do espaço (como previa sua missão original), o telescópio foi reorientado para se manter sempre alinhado com o nosso Sol, o que significa que agora ele troca periodicamente a área celeste em foco. O objetivo da nova missão do telescópio, batizada de K2, também é observar principalmente uma classe específica de estrelas, as anãs-vermelhas como a EPIC 201367065a.
“Os planetas ao redor de pequenas estrelas vermelhas são mais fáceis de detectar porque estão mais próximos delas, então passam mais vezes ‘na frente’ delas”, diz o astrônomo. “Além disso, como as estrelas são menores, o trânsito dos planetas é mais proeminente.”
Como esperança de novas descobertas nos próximos anos, o norte-americano também cita outra missão, a Plato, da qual já falamos na CH On-line e que é coordenada pela Agência Espacial Europeia. Ela dedica-se ao estudo de exoplanetas em órbita de estrelas maiores, mais parecidas com o nosso Sol. Ele também mostra grande expectativa para o lançamento, em 2017, do Transiting Exoplanet Survey Satellite (Tess), novo satélite da Nasa que também irá se dedicar à busca por exoplanetas. “Nós esperamos que missões como K2, Plato e Tess tragam muitas descobertas; é uma época excitante para estudar planetas!”
No total, já são pouco mais de mil registros confirmados feitos pelo telescópio espacial Kepler desde 2009 – e ainda existem cerca de quatro mil achados em potencial
Seja como for, a nova descoberta do Kepler mostra que a missão K2, prevista para durar até o fim de 2016, é promissora. “Certamente teremos novas descobertas interessante graças à manobra inteligente para reaproveitar o Kepler mesmo após seus problemas”, acredita o brasileiro Molina. “Mas é bom lembrar que o Kepler enxerga apenas uma pequena faixa do céu a cada momento e sem dúvida existem muitos mundos nas regiões que ele não vê, vários em zonas habitáveis – e não seria de espantar se houvesse evidências de vida em algum deles. Mas isso ainda pode demorar…”
No total, já são pouco mais de mil registros confirmados feitos pelo telescópio espacial Kepler desde 2009 – e ainda existem cerca de quatro mil achados em potencial do telescópio, que aguardam para serem estudados e confirmados. Será que um dia chegaremos a algum desses lugares? E será que, de lá, alguém nos observa nesse momento, perguntando se seria possível existir vida naquele pálido pontinho azul do universo?