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Jogo do Xbox One diverte com playground punk rock pós-apocalíptico.
Game tem movimentação feroz, arsenal excêntrico e abuso de referências.
Buscar identidade, ser meio revolts, amar aquela banda nova (que ninguém nunca ouviu falar). Ser adolescente é quase sinônimo de sonhar e exagerar. E é por canalizar tão bem esse espírito jovem e impulsivo que não é demais afirmar que “Sunset Overdrive”, exclusivo do Xbox One, é até agora a melhor produção dos videogames de nova geração.
Fruto da mente da Insomniac, estúdio que traz no currículo as séries “Ratchet & Clank” e “Resistance”, exclusivas da família PlayStation, “Sunset Overdrive” é um culto ao seu eu frustrado. O carinha que os pais proibiram de sair com os amigos numa sexta-feira solitária, que ficou sem grana para ir no show, que fazia de tudo pela menina, mas ela ainda assim ligava para os populares – solta “I’m the One” do Descendents, DJ.
A começar pela história. Seu personagem é um zé ninguém na psicodélica Sunset City quando uma bebida energética transforma a população em mutantes. Sobrevivente improvável (sim, o bombadinho morreu), você se transforma no herói de um playground punk rock pós-apocalíptico e precisa enfrentar humanos, robôs e ODs – “overdrive drinkers”, ou bebedores de overdrive (o tal do energético), mas que no jargão do inglês significa overdose. Apropriado, já que a falta de noção é uma das marcas de “Sunset Overdrive”.
Depois tem a forma como você se move e luta pelas ruas e prédios de Sunset City. Esqueça qualquer encheção de linguiça sobre sobreviver em uma cidade em ruínas: aqui, a parada é atirar primeiro e perguntar depois, é meter o pé na porta e arrebentar a porr… toda. Tudo isso enquanto você baixa o espírito Daiane dos Santos e corre, pula, caminha pelas paredes e desliza por cabos na boa. Dar bobeira no chão é pedir para os monstros te comerem vivo, então é obrigatório ficar se movendo e em terreno alto.
Graças ao bem bolado eficiente de “Tony Hawk’s” (as viúvas agradecem) com um pouco de “Jet Set Radio”, a noção de força de “Prototype” e a leveza do parkour de “Assassin’s Creed”, cruzar os cenários atirando em todo mundo é fácil, incrível. E muito divertido. Em meros segundos você vai do nível da rua ao topo de um prédio – aprende, “Infamous”. Com poucos toques de botões, dá para sair de baixo de um fio de telefone, ganhar impulso vertical e cair batendo com tudo. É uma sensação monstruosa de liberdade.
A vasta geografia de Sunset City também ajuda “Sunset Overdrive” a criar combates taquicardíacos. Enquanto você faz “grind” sobre um grupo de ODs, a melhor opção é o lança-foguetes de ursos de pelúcia. Mas daí surge um inimigo grandão, e taca-lhe o arpão Ahab – arma batizada pelo pescador de Moby Dick para causar dano individual, chamar a atenção dos mais fracos e criar tempo para chegar no trampolim do outro lado. De lá, os últimos dos moicanos são finalizados com o arremessador de discos de vinil, de propriedades ricocheteadoras. Do energético laranja eles vieram, e ao energético laranja eles voltarão.
Mas “Sunset Overdrive” não deve ser visto assim, fragmentado. A movimentação feroz. O arsenal excêntrico. A explosão de cores de dar inveja nos marqueteiros da Sukita. O game fala avalanches de palavrões (que podem ser bloqueados), esbanja atitude rebelde e abusa na irreverência de suas referências porque pode e quer. Essa é uma impressão bem forte ao longo da partida. Antes de mais nada, a Insomniac jogou no lixo convenções de narrativa, de arte e de gameplay porque quis fazer “o jogo” que reverberasse tudo que a empresa gosta. “O jogo” que ela, quando “adolescente”, talvez não tenha conseguido criar. Assim como você, naquela matinê, não teve a coragem de chegar na sua paixãozinha. Mas aqui isso não é mais problema.
Quando você morre, por exemplo. As animações de renascimento imitam e satirizam filmes como “Exterminador do Futuro”, “Bill & Ted” e “Missão Impossível”. Se você cai do alto em uma missão, volta da onde estava com uma brincadeira envolvendo o game “Portal”. Detalhes como esses mostram a preocupação da Insomniac em bajular o jogador, o verdadeiro astro dos videogames, e não chatear. É legal, é sincero e é engraçado demais. E vale notar que a experiência chega intacta aos jogadores brasileiros graças à dublagem nacional, que localiza com consciência várias gírias e usa vozes conhecidas do público.
Já o modo de personalização de “Sunset Overdrive” é transviado e despido de juízo de valor, pois pouco importa o sexo, o tamanho do corpo ou a cor de pele que você escolheu no início. Tudo pode ser posto a baixo e refeito usando centenas de cortes de cabelo, roupas e acessórios, que vão do cômico ao bizarro e não distinguem homem de mulher. É possível deixar salvo até nove trajes diferentes. Assim você pode trocar rapidamente entre o rapaz com a fantasia vermelha de macaco, a assassina gótica que usa um capacete de urso panda e o bobo da corte (baseados em personagens reais).
Logicamente, isso não atrapalha a história ou a…. imersão. Tudo é abertamente um faz de conta. Pensar em um avatar do zero a cada punhado de roupas novas é prazeroso e possibilita diferentes manifestações de personalidade de uma só vez. Felicidade tremenda. Mas o mais interessante talvez seja a desassociação entre as habilidades do herói e o equipamento que ele usa. Se você gosta da máscara de gás e não quer usar o recém-obtido chapéu de samurai, tudo bem: um não é mais forte que o outro.
Toda a parte de atributos de “Sunset Overdrive” recai sobre o estilo de jogo de cada um, o nível das armas e os chamados “amps”, que alteram alguns efeitos sobre o herói. Quanto mais você agir de uma forma, mais você fica melhor nela, e essa é uma forma justa de não torrar com estatísticas chatas e ainda assim premiar os criativos – quanto mais variedade nas lutas, mais forte você fica.
"Sunset Overdrive" supera as expectativas e se prova um game dinâmico, espirituoso e de bem com a vida. Após se adaptar ao ritmo do jogo, correr e pular pelos cenários coloridos e vertiginosos de Sunset City se torna incrível e uma extensão dos anseios mais radicais dos jogadores. E cumprir as missões sempre é empolgante graças à criatividade das missões, que também transgridem alguns preconceitos vistos em outros games de mundo aberto.
O tom irreverente quase sempre acerta e ajuda a criar uma obra poderosa que homenageia e satiriza as culturas do videogame, do cinema, da música e das HQs. Mas acima de tudo, coloca o jogador no centro das atenções. Ele tem de se divertir, e é isso que acontece. “Sunset Overdrive” nasceu como azarão, mas se tornou garanhão. É uma das experiências mais revigorantes dos últimos anos.
'Sunset Overdrive'
Plataformas: Xbox One
Produção: Microsoft Studios
Desenvolvimento: Insomniac Games
Gênero: Tiro em terceira pessoa
Jogadores: 1-8 (on-line)
Lançamento: 28 de outubro
Preço: R$ 200
Plataformas: Xbox One
Produção: Microsoft Studios
Desenvolvimento: Insomniac Games
Gênero: Tiro em terceira pessoa
Jogadores: 1-8 (on-line)
Lançamento: 28 de outubro
Preço: R$ 200
Prós: combates muito divertidos e com ótimo ritmo; possibilidade de se mover com velocidade e de várias formas; objetivos criativos; modo de criação de personagens é libertador; irreverência e referências a filmes e games; “Tony Hawk’s” + armas = <3.
Contras: o esquema de missões ainda é careta; alguns podem sofrer com o excesso de palavrões; não há um modo on-line de navegação livre.
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